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Transtorno do processamento sensorial e TDAH

O transtorno do processamento sensorial (TPS) provoca reações extremas a estímulos de toda ordem, como não conseguir sentir a etiqueta da roupa em contato com a pele ou ficar enormemente incomodado com o barulho de uma tesoura. Em cerca de 30% a 80% dos casos, o TPS está associado ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Para compreender o transtorno do processamento sensorial e a conexão dele com o TDAH, confira:

O que é o transtorno do processamento sensorial?

O transtorno do processamento sensorial altera a forma como o sistema nervoso central recebe, organiza e reage a diversos tipos de estímulos: visual, auditivo, tátil, gustativo, olfativo e dos sistemas proprioceptivo e vestibular, que nos permitem reconhecer a posição de cada parte do nosso corpo e manter o equilíbrio. O que resulta em reações físicas, comportamentais e afetivas diferentes do comum.

Quem possui o distúrbio pode ser extremamente sensível, por exemplo, ao som provocado pela colher quando alguém a está usando para mexer o café ou, então, precisar de muito estímulo para experienciar sensações. Cada caso de TPS costuma ser único, o que faz com que uma pessoa posa ter vários ou apenas um sentido prejudicado.

Por enquanto, o TPS não consta nas principais classificações internacionais de doenças e transtornos, como a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V).

Entretanto, o transtorno do processamento sensorial é abordado direta ou indiretamente no Manual de Diagnóstico para a Infância e Primeira Infância, do Conselho Interdisciplinar em Transtornos do Desenvolvimento e da Aprendizagem (ICDL), e na Classificação Diagnóstica de Saúde Mental e Transtornos do Desenvolvimento da Infância e Primeira Infância.

Quais as causas do transtorno do processamento sensorial e qual a relação dele com TDAH?

Ainda não são conhecidas as causas do transtorno do processamento sensorial, sendo necessário fazer mais investigações. É possível que exista um componente genético, mas o que se sabe é que fatores externos que podem aumentar o risco de desenvolver o transtorno, tais como:

  • Experiências negativas na primeira infância;
  • Falta de interação com adultos e outras crianças;
  • Pouco estímulo à sucção do leite pela mamadeira;
  • Parto prematuro;
  • Desnutrição no pré-natal;
  • Infecções no ouvido.

Para parte dos pesquisadores e médicos, o TPS é um problema isolado. Outros acreditam na relação direta com distúrbios como o transtorno do espectro autista (TEA) e o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Os índices corroboram, principalmente, a probabilidade de conexão com o TDAH, pois:

  • Em 30% a 80% dos casos de TDAH, o TPS também está presente.

Nesses casos, os sintomas do transtorno do processamento sensorial e do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade podem coexistir. No entanto, o tratamento de cada transtorno será diferente. Isso porque, quando os estímulos sensoriais são eliminados, quem tem TPS muda o comportamento. O que não acontece em quem tem TDAH.

Existem vários tipos de transtorno do processamento sensorial?

O TPS se divide em três subtipos: transtorno de modulação sensorial, transtorno de discriminação sensorial e transtorno motor de base sensorial. No entanto, uma mesma pessoa pode apresentar características de mais de um deles. Confira cada um:

Transtorno de modulação – nesse caso, a intensidade das reações pode ser de hipersensibilidade, que leva a respostas mais rápidas ou duradouras do que o normal, ou de hiporresponsividade, com respostas lentas e sem a intensidade esperada; ou, então, existir um forte e insaciável desejo por estímulos sensoriais (busca sensorial).

Transtorno de discriminação – pessoas que se encaixam nesse subtipo não conseguem saber de onde vêm as sensações e ficam confusas. Também apresentam dificuldade em distinguir as semelhanças e diferenças dos estímulos, por exemplo, fontes de sons e letras.

Transtorno motor – a pessoa tem dificuldade de estabilizar o corpo (transtorno postural) ou preparar e sequenciar movimentos coordenados (dispraxia) a partir de informações sensoriais dos sistemas proprioceptivo e vestibular.

Quais são os sinais e sintomas de transtorno do processamento sensorial e quais são iguais aos de TDAH?

Os sinais e sintomas de TPS podem envolver a reação exagerada ou insuficiente a estímulos, busca por emoções mais intensas e dificuldade na resposta motora. Entre os mais comuns estão:

  • Coceira e incômodo com tecido das roupas;
  • Ofuscamento com luzes;
  • Sensibilidade maior a sons;
  • Receio de brincar em balanços;
  • Dificuldade com equilíbrio;
  • Incômodo com toques, mesmo se forem suaves;
  • Reação fora do comum a movimentos repentinos;
  • Dificuldade para segurar objetos;
  • Problemas de comportamento;
  • Dificuldade para subir escadas;
  • Atrasos na linguagem;
  • Não conseguir ficar parado;
  • Adorar pular, subir em algo alto e girar;
  • Girar sem ficar tonto;
  • Problemas para dormir;
  • Não reconhecer que o rosto está sujo;
  • Não ter noção do próprio espaço;
  • Não dar atenção a normas sociais;
  • Mastigar objetos ou parte do próprio corpo.

Pessoas com o transtorno do processamento sensorial também podem ter manifestações características do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e vice-versa, o que dificulta a diferenciação entre os dois. Por exemplo: pessoas com TPS podem ter dificuldades de atenção, mau controle de impulsos e hiperatividade, que são típicos de TDAH; por outro lado, pessoas com TDAH podem ter problemas com hipersensibilidade sensorial, o que é típico de TPS.

Além disso, alguns aspectos comportamentais de TDAH e de TPS podem ser muito parecidos:

  • Controle deficiente de impulsos;
  • Movimentos e toques inadequados;
  • Distração e dificuldade de concentração;
  • Não ter consciência quando alguém fala com consigo ou é solicitado a seguir instruções.

Também é possível ocorrer problemas emocionais em quem tem TPS, como baixa autoestima, falta de confiança e isolamento social.

Como é feito o diagnóstico do transtorno do processamento sensorial?

O diagnóstico do TPS pode ser feito a partir da avaliação de vários fatores:

  • Exame físico;
  • Atrasos no desenvolvimento, como na fala e linguagem;
  • Questionário psicológico;
  • Pesquisas com os pais.

Como é o tratamento do transtorno do processamento sensorial?

O tratamento para o TPS pode envolver atividades específicas para o dia a dia e diferentes tipos de terapia. Entre as recomendações estão:

Dieta sensorial – envolve a prática de atividades para ajudar no foco e na organização. Devem ser introduzidas sutilmente na rotina e de forma personalizada, correspondendo a necessidades do paciente. Caminhadas e ouvir diversas frequências e padrões sonoros, em diferentes horários do dia, são algumas recomendações.

Terapia de integração sensorial – o paciente é submetido a atividades desafiadoras, mas sem sobrecarga física ou emocional. Funciona como um treino para desenvolver habilidades capazes de controlar os sintomas em qualquer ambiente e situação.

Terapia ocupacional – além de utilizar métodos da integração sensorial, as atividades são focadas nas habilidades motoras finas, como recortar um papel, e motoras grossas, como lançar uma bola.

Terapias alternativas, incluindo a acupuntura e certos tipos de massagem, podem aliviar os sintomas, mas os benefícios não são comprovados cientificamente. Outra medida paliativa pode ser eliminar ou reduzir os estímulos que provocam reações exacerbadas, como tirar as etiquetas das roupas ou usar óculos escuros e fone de ouvido, de acordo com a hipersensibilidade de cada caso.

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Referências

https://www.icdl.com/dir/bookstore/icdl-publications/diagnostic-manual-for-infancy-and-early-childhood – acesso em 09/09/2023.


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